Empreendedorismo Artesanato – Retrato de uma atividade Publicado em 13 de Janeiro, 2019 Entre os desafios e as potencialidades O futuro surge-nos não apenas das novas tecnologias, mas igualmente da recuperação dos modos de produção tradicionais, mais sustentáveis e criativos do que a produção em massa, descaracterizadora, uniformizada e frequentemente apoiada em processos produtivos que implicam pesados custos ambientais e sociais. Apesar do potencial do artesanato enquanto área de negócio em expansão, que permite responder de forma satisfatória a dois dos maiores desafios da atualidade, a flexibilização do mercado de trabalho e impacto social e ambiental do consumo, os apoios públicos a esta atividade são escassos e, quando existem, correm o sério risco de passar despercebidos a quem deles poderia usufruir. Os projetos de artesanato geralmente não encaixam na moda das startups e, em regra, não são motivados pela vontade de gerar grandes fortunas, pelo que ficam à margem dos negócios do momento, apesar de serem tão ou mais inovadores e abertos a novas técnicas e estratégias. Fomos conhecer melhor os rostos por detrás desta atividade tão desafiadora e que frequentemente não recebe o reconhecimento que merece. História de uma artesã Carla Raimundo é um bom exemplo deste movimento. Esta professora de Ansião, Leiria,decidiu lançar um negócio próprio que tem uma particularidade interessante e que remete para os modos de produção familiares do passado: toda a família colabora! Mãe de uma família alargada, tem os seus 5 filhos, entre os 6 e os 19 anos, envolvidos no processo de criação das Fadas D’Coração. O projeto começou há dois anos como uma forma de ocupar as crianças durante as férias de verão. Curiosamente, a ideia inicial foi criar uma fada dos dentes, que até hoje ainda não surgiu pois Carla ainda não encontrou aquele tecido especial para a sua criação. Assume-se como uma artesã extremamente exigente,tanto com o processo de confeção como com a seleção dos materiais que utiliza nas suas criações,e apenas inicia a produção quando encontra o tecido ideal para cada fada. Apesar deste objetivo inicial estar por cumprir muitas outras fadas nasceram já das mãos da família de Carla; a partir da primeira encomenda surgiram muitas outras, pelo que trabalho não tem faltado e neste momento é um hobby que ocupa muito tempo. As encomendas têm fluido naturalmente desde o início, sem dificuldades na apresentação, divulgação e comercialização do produto, que se vende a si próprio. Não têm ocorrido quebras no negócio porque surgem constantemente aniversários ou outras datas especiais e “há sempre alguém que procura algo diferente”. Carla considera um privilégio poder estar presente nos momentos especiais das suas clientes através destes produtos tão personalizados. Geralmente as fadas assinalam comemorações, respondem ao desejo de marcar a diferença e constituem ofertas especiais, únicas e certamente memoráveis. É um produto original que se distingue pela possibilidade de personalizar cada artigo de acordo com as preferências do cliente.Carla tem uma variedade de fadas de exposição, que apresenta nas feiras, mas trabalha essencialmente por encomenda. O cliente é alguém com um perfil muito específico. Mas palavras de Carla: “Não é um produto que seja vendável para massas, é para quem dá valor ao trabalho manual, que aprecia a diferença e a qualidade”. As fadas têm um design completamente original, fruto da criatividade da filha mais velha de Carla. A cabeça de cada fada tem a forma de um coração invertido que culmina num coração na ponta. Ao apertar a fada, esta simula o bater do coração. Esta originalidade é um factor de atração para muitos clientes. De momento Carla está a desenvolver uma nova coleção de fadas do mundo, que vestem trajes típicos de diversas regiões emblemáticas do nosso planeta. Naturalmente, o nível de exigência de Carla é enorme, pelo que os tecidos têm que ser originais e provenientes destas regiões. A qualidade e o requinte são a imagem de marca deste projeto de artesanato que cativa os clientes mais exigentes. Quando as artesãs se unem Odete Alves é fundadora, mentora e dinamizadora do projeto ArtelusaM,uma plataforma web que permite à Artesã Lusa o acesso a um expositor virtual onde pode divulgar o seu trabalho. Ao mesmo tempo, a ArtelusaM quer oferecer à Mulher Artesã Lusa oportunidades de parcerias e trabalho em rede, com a finalidade de expandir a sua criatividade e divulgar a sua obra. “A ArtelusaM tornou-se visível na web com a contribuição simbólica (mesmo muito simbólica) de apenas 14 artesãs. Foi graças a estas 14 MULHERES (com estatuto de Pioneiras), criativas e audazes, que tiveram a capacidade de ver mais longe e acreditar que era possível esbater os céus que limitam as asas da expansão, que a plataforma veio à luz e, assim, permitiu que também outras artesãs se agregassem (e possam agregar-se) ao projeto”. A ArtelusaM é uma novidade muito promissora para o mundo do artesanato.Nasceu como site de divulgação do artesanato feminino português apenas em Junho deste ano, tendo começado como um grupo de trabalho 3 meses antes. O objetivo remoto que presidiu à criação da ArtelusaM consistiu em libertar a divulgação do artesanato de muitas mulheres lusas do circuito fechado e restrito dos grupos nas redes sociais, onde repetitivamente lançavam os seus artigos para vender mas também para encontrar estima, apoio e alguma segurança. A ArtelusaM veio responder à necessidade de suporte, segurança e confiança para a abertura, exposição e projeção na montra global que é o mundo web. Odete Alves explica que o projeto não nasceu com as características de negócio nem é assim que se mantém enquanto plataforma. Anuncia e divulga o artesanato e proporciona o contacto entre a artesã e o potencial cliente, mas não tira qualquer vantagem sobre as vendas realizadas. Segundo Odete Alves, é tudo por uma boa causa: a valorização da Mulher Artesã Lusa. E o projeto não vai ficar por aqui. Em setembro será lançado o blogue ArtelusaM e está prevista a expansão da plataforma para aplicações móveis e mais redes sociais. Veja a reportagem completa na nossa revista digital gratuita: Fotografia de Katherine Hanlon no Unsplash
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