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As mulheres e o mito do multitasking

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Cérebros masculino e feminino: mitos comuns

As mulheres são mais emotivas que os homens e têm o “coração junto à boca”: têm maior facilidade em expressar as suas emoções e fazem-no abundantemente.

Os homens são mais pragmáticos e não deixam que as emoções se metam no seu caminho: vão diretos ao ponto – “Pão, pão…Queijo, queijo”!

Estes são apenas alguns mitos sobre homens e mulheres (e a forma de funcionamento dos seus cérebros!): são vieses de género sem qualquer fundamentação científica.

Existem muitos outros, mais ou menos enraizados culturalmente. Porém, o viés que iremos analisar é um dos mais arreigados e aceites de forma quase dogmática.

Adivinha qual é?

O malabarismo diário

Está no trabalho a “suar as estopinhas” para ressuscitar aquele projeto que não avança nem por decreto! E que jeito lhe dava para os seus objetivos do trimestre!… Ao telefone com o cliente procura, a todo o custo, levar a negociação a “bom porto”.

Entretanto, entra um novo mail na sua mailbox que transborda de mails para ler e dar resposta todos os dias. Não resiste a abrir: sempre é menos um a engrossar a longa lista de mails para responder. Lê e responde enquanto continua ao telefone: com esforço suplementar de concentração e apercebe-se, mesmo assim, que vai perdendo partes da informação na conversa… Por vezes baralha-se a teclar e atrapalha-se na conversa telefónica. Mas persiste! As exigências são muitas e o tempo, esse é escasso!

Para agudizar a situação, o seu telemóvel pessoal começa a tocar. Reconhece o número: é da creche do seu filho!

Perde o fio à meada na resposta ao mail e entra em modo “hum-hum” ao telefone, tentando interromper o fluxo da conversa para se desculpar por uns segundos e atender a chamada que lhe está a fazer disparar o ritmo cardíaco.

Neste momento já não está a ouvir nada. E parou de teclar a resposta ao mail. O cliente faz silêncio: aparentemente colocou-lhe uma questão e aguarda uma resposta sua! Ops! E qual foi a questão, afinal? Não ouviu.

GEROU-SE O CAOS!!!!

Quadro familiar? Já lhe aconteceu algo do género, certamente.

Um viés feminino muito comum

Um dos vieses femininos mais comummente aceites, tanto por homens como por mulheres, está relacionado com a capacidade de fazer multitasking: as mulheres orgulham-se, de forma geral, de serem exímias a fazê-lo.

Na origem deste viés estará, provavelmente, a panóplia de “camisolas” que as mulheres envergam com dedicação e apreço: todas tão diferentes mas igualmente exigentes! Mães, filhas, esposas, empreendedoras, trabalhadoras e líderes, muitas mulheres acomodam ritmos de vida verdadeiramente vertiginosos.

Mas o que é, afinal, um viés?

O cérebro tem como função a gestão otimizada de energia, informação e relacionamentos (consigo mesmo, com outros cérebros e com o ambiente envolvente), garantindo e dando prioridade à sobrevivência.

Por isso, cria comportamentos automatizados baseados em ideias e avaliações pré-concebidas, tipicamente adquiridas ao longo da vida, principalmente a partir do meio familiar e de fatores culturais – os VIESES.

São ótimos para nos ajudar a reagir rapidamente para sair da frente do carro que está prestes a atropelar-nos!

Contudo, VIESES e comportamentos automatizados conduzirão a sua vida  por default, se não tiver deles consciência e se não tomar ação. É este o lado perverso de um mecanismo criado com o nobre objetivo de promover sobrevivência.

O mito do multitasking

Lamento dar-lhe esta notícia mas cai assim por terra uma das maiores bandeiras do mundo feminino: a capacidade inata de fazer multitasking.

É simplesmente impossível. O cérebro tem somente a capacidade de fazer uma coisa de cada vez.

Quase consigo ouvi-la… “Mas eu faço multitasking todos os dias! É a minha vida!!…”

Lamento desencantá-la mas, na verdade, o que está a fazer é task switching: executa, paralela e alternadamente, diversas tarefas em simultâneo. Saltita entre elas.

Pode, sim, ser muito boa a fazê-lo. E, nesse caso, fa-lo-à com rapidez suficiente para lhe parecer que está a fazer mulitasking.

Contudo, este task switching disfarçado de multitasking traz consigo um preço a pagar: maior demora para concluir as tarefas que está a executar em paralelo (quando comparando com a sua execução isolada e exclusiva) e uma maior taxa de incidência de erros.

Estas duas desvantagens têm impacto direto na sua performance, produtividade e resultados obtidos.

Claro que o ritmo de trabalho diário é uma loucura e praticamente nos empurra para esta armadilha do multitasking. Mas tem, sim, uma palavra a dizer e, mais que isso, espaço para implementar estratégias que contribuam para melhorar os seus resultados.

Como mitigar este viés

E qualquer viés, na verdade.  Mitigar porque não podemos erradicar definitivamente os vieses. É caso para dizer que “não é defeito, é feitio”: os vieses são produto incontornável do normal funcionamento do cérebro.

Podemos, sim, mitigar os efeitos dos vieses para suavizar o seu impacto na  vida, tomada de decisões estratégicas e performance.

O primeiro passo ( e único, na verdade…): Neuromindfulness – O uso deliberado da atenção e da aceitação!

O que é o Neuromindfulness? 

O mindfulness não se resume a meditação. Esta associação é, em si mesma, um viés.

Quem não consegue meditar (ou simplesmente não gosta!) também pode aspirar ter uma vida mais consciente recorrendo ao Neuromindfulness.

São estes os dois pilares essenciais do Neuromindfulness:

 – ATENÇÃO DELIBERADA: mobilize a sua atenção consciente em tudo o que faz.

Policie-se de forma a detetar comportamentos automáticos quando estes se despoletam e interrompa-os, corrigindo o seu curso de ação de forma deliberada.

Preste atenção às mais pequenas ações do dia-a-dia, para que o seu padrão predominante passe de mindless a mindful.

Dica: haverá certamente algumas áreas da sua vida em que já tem uma postura mindful! O neurocoaching irá ajudá-la a perceber o que faz de forma diferente nessas áreas e porquê e replicar isso em áreas-chave para atingir os seus objetivos.

– ACEITAÇÃO CONSCIENTE:  como um processo deliberado e consciente de não julgamento, distanciamento e não-identificação com os pensamentos.

Numa frase: desapegar-se dos seus pensamentos que, como já viu, podem resultar de uma enorme diversidade de fatores que nada têm a ver com certeza ou verdade (o que quer que seja isso…).

Dica: preste atenção aos pensamentos furtivos que geralmente o desmobilizam quando precisa de agir. Distancie-se e retire-lhes o controlo!

Ana Guimarães

Neurocoach | Speaker | Trainer
Neurocoaching para coaches, gestores e líderes

coach@anaguimaraes.pt

Fotografia de Slava Bowman no Unsplash

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