Empreendedorismo Férias e empreendedorismo – Saber quando parar e quando regressar ao trabalho Publicado em 12 de Outubro, 2018 Retomei há pouco tempo o meu trabalho, após três semanas de férias preciosas. Agosto e setembro têm sido sempre meses marcantes ao longo da minha vida profissional, num ciclo curioso de expansão, reflexão e recomeço muito ligado aos anos letivos. Este ano não é diferente e setembro trouxe-me o início da parceria como patrocinadora das Mulheres à Obra, um projeto que me foi apresentado por uma cliente e amiga que me disse num tom simultaneamente carinhoso, crítico e encorajador: “Porque tu Ana, és uma mulher empreendedora!” “Sou?!” Fiquei uns dias a refletir sobre esta conversa, pesquisei o portal, a página no Facebook… Sim, sou uma mulher empreendedora há 22 anos. Desde quando não existia esta palavra no nosso vocabulário, nem internet e nem “Empresa na Hora”. Desde quando era necessário estar horas intermináveis em espera nos cinco serviços, completamente independentes uns dos outros, que formalizavam a criação de uma empresa: Registo Nacional de Pessoas Coletivas, Notário, Registo Empresarial, Finanças e Segurança Social. Uma estopada! Atirei-me a esta tarefa durante um mês de agosto, sem qualquer conhecimento prévio do que me esperava, sem planificação e com algumas ajudas que a dada altura desapareceram sem deixar rasto. Em cada passo ficava a saber qual o passo seguinte. Mais ou menos como hoje, a cada passo dado, penso na eventualidade do passo seguinte. E aqui estou no Mulheres à Obra. A Joana, a cliente e amiga que me falou deste projeto, é daquelas raras pessoas que nos surgem no momento certo da vida e que com muito pouco nos transformam, porque têm a bondade de partilhar sem medo. Ao longo destes 22 anos, utilizando uma frase comum, basta-me uma mão para as enumerar, curiosamente todas mulheres! Este “era uma vez uma empresa…” andou a passear comigo durante uns dias e com isso tomei verdadeira consciência de que a tarefa mais difícil que tive sempre entre mãos, enquanto empreendedora, foi precisamente a gestão das férias. – Como interligar as nossas férias com as de companheiros, amigos, família ou filhos, estas bastante mais longas? – Como organizar as férias quando o nosso escritório é em casa? Mas, acima de tudo: – Como encontrar o momento certo para gozar as nossas merecidas férias? Uma altura que não prejudique o nosso trabalho nem os clientes? Esta última pergunta é particularmente relevante quando trabalhamos sem equipa e o que vendemos é produto dos nossos talentos e capacidades únicas, ou seja, quando dificilmente podemos delegar ou passar projetos a terceiros e seguir para férias sem pensar mais nos assuntos da empresa. Gerir prioridades É essencial refletirmos frequentemente sobre quais são as nossas prioridades — que em última instância se ligam à nossa felicidade, à nossa sensação diária de bem-estar —, para compreendermos a cada momento o que nos é verdadeiramente importante na dualidade entre sucesso profissional e sucesso pessoal. Para umas, o crescimento empresarial, o reconhecimento e a estrutura financeira poderão ser prioridades e, neste caso, o lazer, a eventual constituição de uma família ou a participação na vida dos amigos e de familiares poderão ficar comprometidas. Para outras, o emocional, maternal, social são o seu alimento primário e não se sentirão menorizadas ou incapazes caso tenham de reduzir a sua carga horária, o volume de trabalho e, consequentemente, o retorno financeiro. Na gestão do dia a dia, assim como na definição da data e duração das férias, é com base numa destas duas vertentes que tomamos decisões. Qualquer uma das opções é válida desde que nos faça mulheres inteiras e felizes, mas pretender ter simultaneamente muito sucesso nas duas vertentes é que poderá tornar-se um objetivo demasiado grande, com implicações físicas e emocionais, mais cedo ou mais tarde. Como em tudo, o importante é encontrar um equilíbrio que nos satisfaça e aceitar plenamente as nossas capacidades e limitações, bem como o resultado das decisões. Uma correta gestão de prioridades permite-nos tomar decisões conscientes e responsabiliza-nos perante os seus resultados. Planear Beneficiar de um bom período de descanso e de recuperação só é possível se nos empenharmos na sua planificação: As datas de ausência devem ser definidas com a maior antecedência possível para nos mentalizarmos e darmos tempo de organização aos nossos clientes. Não podemos ceder à tentação de adiar ou cancelar as férias sempre que surge um trabalho inesperado. Se o fizermos, os nossos clientes saberão que o descanso não é uma prioridade e a nossa família, se for esse o caso, também sentirá que está em segundo lugar. Negocie os prazos e valorize as suas férias da mesma forma que valoriza o seu trabalho. Se as férias são vividas em família ou com amigos, é essencial definirmos à partida e em conjunto quais são os compromissos profissionais que terão que nos acompanhar, definindo uma rotina de trabalho, ainda que flexível. Sim, mesmo em férias! Para que o profissional não esteja sempre a interferir no pessoal. Simplificar é a palavra de ordem! Se o nosso dia a dia é sobrecarregado, não vamos reproduzir o padrão em férias. Por fim, é absolutamente essencial saber deixar para depois, ainda que os assuntos permaneçam na nossa cabeça. Apreciar O primeiro dia de férias costuma ser de grande descompressão. Depois de dias intensos para deixar tudo pronto e organizado, eventualmente somados à preparação da bagagem e à gestão da casa, o corpo passa por um processo gradual de libertação de tensão. A responsabilidade que assumimos nos nossos projetos somada à quantidade efetiva de trabalho que temos para executar, colocam-nos numa velocidade de processamento de informação intelectual e física de que nem nos damos conta, criando esta tensão a que chamamos vulgarmente stress. E, ao contrário do que se pensa, o stress pode ter origem em coisas potencialmente positivas, como um trabalho executado com paixão e convicção. Em regra, apenas no terceiro dia longe do trabalho, ou pelo menos de ritmo diferente, começamos a sentir-nos verdadeiramente bem, e será difícil descansar plenamente corpo e espírito num período de férias inferior a duas semanas porque, fisiologicamente, o corpo humano precisa de pelo menos 7 dias para registar um processo de mudança. Quanto maiores forem a tensão e o cansaço acumulados, maior deverá ser o período de descanso e maior disciplina devemos desenvolver para equilibrar as tarefas que nos são inalienáveis, por força da nossa opção empreendedora, com as atividades de férias. É comum passarmos por desequilíbrios de humor nestes primeiros dias, é um processo natural de ajuste ao qual devemos dar bastante atenção para não entrarmos em conflito com quem nos acompanha e que pode estar também a passar por algo semelhante. Desligar Para percebermos onde estamos é preciso mudar a frequência, a sintonia, o foco. As férias desempenham um papel essencial neste processo. Ao mudarmos de local, de ritmo, de prioridades, abrimos espaço para nos colocarmos em diálogo com muitas outras realidades para além das do quotidiano. Estando despertas para outras realidades, criamos riqueza interior e potenciamos o nosso trabalho, a nossa criatividade, mas acima de tudo a nossa essência. É a riqueza da nossa essência que nos vai permitir recomeçar, voltar ao trabalho, aos horários, à gestão da tensão, repetindo mais um ciclo. Durante as férias temos também o tempo necessário para refletir tranquilamente sobre o que já construímos, o que recebemos e o que somos, e para decidir se estamos num bom caminho e até onde vale a pena segui-lo. Porque no final, como todas sabemos, devemos ser muito mais do que o nosso trabalho. Ana Luísa Bolsa alb@4elementos.pt www.facebook.com/espaco4elementos Fotografia por Rodolfo Sanches Carvalho no Unsplash
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