Home Testemunhos No sofá com a Empreendedora Fátima Mariano

No sofá com a Empreendedora Fátima Mariano

P. – Qual a tua atividade profissional?

Sou jornalista, historiadora, autora e revisora de textos. O meu propósito é contribuir para a melhoria da comunicação escrita. Muitas vezes não temos noção, mas todos os dias comunicamos através da escrita.

P. – Quando sentiste o “chamamento” do empreendedorismo na tua vida?

Sempre fui empreendedora sem o saber. Recordo-me de na escola preparatória vender aos colegas pulseiras que eu fazia com linha de croché e com o dinheiro que ganhava comprar a revista Bravo, que adorava, apesar de ser escrita em alemão e eu não perceber nada da língua. Quando fui presidente do CLUPAC – Clube Português de Coleccionadores de Pacotes de Açúcar, lancei dois projectos inovadores: o CLUPAC Solidário, que consistia na entrega de açúcar a instituições de solidariedade social (nós só coleccionamos os pacotes), e o CLUPAC Escolas, no âmbito do qual visitávamos estabelecimentos de ensino e falávamos sobre o coleccionismo de pacotes de açúcar, como é produzido o açúcar e o impacto da sua ingestão na saúde.

P. – Como começaste o teu percurso empreendedor?

Depois de ter ficado desempregada em 2014, aos 39 anos, comecei a estruturar devagarinho o meu próprio negócio. Percebi que era muito difícil voltar a ser contratada para os quadros de uma empresa, mas que havia mercado para trabalhadores independentes nas minhas áreas. Não tem sido um trajecto fácil, mas tem sido muito desafiante. Estou sempre atenta às oportunidades que surgem e a encontrar novos nichos onde posso actuar.

P. – Que dificuldades encontraste nesse percurso e como as contornaste?

Identifico duas grandes dificuldades: o não me saber vender e o não saber trabalhar com as ferramentas digitais. Como comecei a trabalhar por convite, assim que acabei a licenciatura, nunca tive necessidade de responder a anúncios de emprego ou de enviar candidaturas espontâneas. Quando trabalhamos por conta própria, temos de estar permanentemente a vender-nos enquanto profissionais, e inicialmente tive muita dificuldade em compreender isso. Por outro lado, não sabia como usar as ferramentas digitais a favor do meu negócio. Gerir a minha página pessoal do Facebook ou um blogue que dinamizo apenas por diversão não é o mesmo que gerir a página do Facebook ou o blogue profissionais. Colmatei estas duas fragilidades com muita leitura, conversando com outros empreendedores e frequentando alguns cursos.

P. – Comparando a tua atual atividade profissional empreendedora com o trabalho que tinhas antes, que diferenças destacas?

Ambas as situações têm pontos positivos e negativos. Trabalhar por conta própria, sobretudo quando ainda não temos um nome firmado na praça, é sinónimo de muita instabilidade financeira. Implica também investir muito tempo (noites, feriados, fins-de-semana, férias), e isso pode afectar negativamente o ambiente familiar. Por outro lado, temos mais liberdade na gestão do tempo e do espaço. Quando um cliente me encomenda um trabalho, para ele é indiferente se eu o realizo durante o dia ou a noite, em casa, numa biblioteca ou na praia. O importante é que o trabalho seja feito com qualidade e entregue no prazo.

P. – Que dicas gostarias de partilhar para quem quer dar os primeiros passos numa carreira empreendedora?

Nem todas as pessoas se adaptam a trabalhar por conta própria. Há uma grande pressão nesse sentido, o que pode conduzir a decisões precipitadas. Vejo muitas pessoas a deixarem um emprego seguro para lançarem o seu negócio, muitas vezes sem terem noção do que as espera. Também há muita dificuldade em aceitar que um negócio não tem pernas para andar, e adia-se o seu encerramento, com tudo o que isso implica em termos emocionais e financeiros. Em Agosto de 2019, fechei o jornal digital Os Bichos, que tinha lançado em Maio do ano anterior. Custou-me muito, mas o projecto não era viável e eu não tinha recursos (emocionais, financeiros, humanos, técnicos, etc.) para mantê-lo. Foi a melhor decisão que tomei. É preciso interiorizar qua não há apenas um caminho na vida, e no mundo dos negócios não é diferente.

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