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Quem são as Mulheres à Obra?

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Ao fim de quase um ano após a criação do grupo de Facebook Mulheres à Obra, chegamos às 40 mil «membras»!

Na sua grande maioria (92%), as nossas mulheres empreendedoras residem no território nacional, sobretudo no Distrito de Lisboa. Somos essencialmente mulheres em idade ativa, com uma prevalência entre os 35 e os 44 anos (44%).

Todas as mulheres que solicitam adesão ao grupo, ou são adicionadas por amigas, são admitidas (não fazemos triagem), pelo que é possível encontrar entre nós mulheres de todas as proveniências, com formações e experiências muito diversas e com objetivos distintos.

Será que por isso somos apenas uma amálgama de pessoas sem pontos de contato, para além do facto de sermos mulheres com interesse na questão do empreendedorismo, ou é possível identificar aspetos comuns que definem a nossa identidade coletiva?

Quem somos nós?

Num contexto em que o termo empreendedorismo se vulgarizou, aquilo que define a mulher empreendedora requer clarificação, sob pena de cairmos em clichés e generalizações que “evitam tanto quanto definem”, na medida em que se limitam criar uma frágil junção entre realidades distintas.

Foi com o propósito de esclarecer esta dúvida que a submetemos ao grupo.

De forma muito abrangente, lançámos quatro questões gerais sobre a identidade da mulher empreendedora:

Quem somos?

O que nos define?

O que nos distingue?

O que nos une?

As nossas «membras» tiveram a oportunidade de adicionar livremente as suas respostas numa sondagem e de votar naquelas com que mais se identificam. Eis os resultados, partindo da mais para a menos votada:

1. Persistentes

2. Espírito Positivo

3. Multitask

4. Sonhadora

5. Resilientes

6. Corajosas

7. Gostar do que faz

8. Guerreiras

9. Entreajuda

10. Resistentes

11. Objetivas

12. Saber aproveitar as oportunidades

13. Ter espírito de networking

14. Organizadas

15. Saber lidar com a concorrência de forma positiva

16. Visionárias

17. Familiar

18. Indecisa

19. Amigas

As mulheres à obra olham para si próprias de forma bastante favorável. Os resultados demonstram claramente uma perspetiva muito positiva sobre a mulher empreendedora, que se destaca pelo seu caráter forte, pelo seu espírito de colaboração e pela vertente familiar, que exige a capacidade de gerir diversos desafios simultaneamente.

A nossa identidade coletiva

A construção da identidade coletiva é um fenómeno histórico que acontece no decurso das relações humanas, não é uma coisa, uma estrutura ou uma categoria que se apresenta já completamente determinada.

As palavras de E. P. Thompson a respeito da Classe Trabalhadora Inglesa são por isso facilmente transponíveis para a identidade coletiva da Mulher Empreendedora:

The working class did not rise like the sun at an appointed time. It was present at its own making.

O grupo Mulheres à Obra não abrange todas as mulheres empreendedoras, reúne apenas aquelas que a ele aderiram. Não somos por isso uma amostra representativa deste universo tão extenso e variado que compõe o empreendedorismo feminino, já que deixamos de fora muitas mulheres, nomeadamente aquelas que não utilizam o Facebook.

No entanto, a nossa interação diária no grupo revela afinidades, empatias e reconhecimentos que nascem de experiências comuns. É um processo relacional que tem uma “fluência própria”; somos pessoas reais num contexto real, e o contexto é o nosso grupo de Facebook.

Não possuímos necessariamente uma consciência comum claramente identificada e percecionada enquanto tal; somos “uma multitude de mulheres com uma multitude de experiências” que evidenciam determinados padrões no seu relacionamento e determinadas características específicas.

A nossa comunidade

Por vezes, há discrepâncias que geram desentendimentos; por vezes, há relatos de dificuldades; por vezes, há parcerias que correm menos bem. Isto ocorre porque somos mulheres reais que funcionam no mundo real e não uma imagem estereotipada de um empreendedorismo idealizado. Contribuímos de forma consciente para fazer história, tanto com as nossas vitórias como com os nossos fracassos.

O que melhor nos carateriza é o facto de não estarmos sozinhas; somos uma comunidade que olha para além da competição e do lucro e que procura fomentar a confiança social e gerar processos colaborativos. Discutimos, debatemos, deliberamos, trocamos ideias e pontos de vista e assim conseguimos ver para além dos nossos interesses individuais.

Acima de tudo, persistimos na busca por uma vida melhor e procuramos manter um espírito positivo!

A Boa Vida, a Virtude, não é algo que consigamos alcançar sozinhos, puramente enquanto indivíduos, unicamente no contexto da nossa vida privada. Viver uma Boa Vida é desenvolver plenamente as nossas capacidades, incluindo a nossa capacidade para refletir criticamente sobre o certo e o errado, a justiça e a injustiça, conceções diversas da Boa Vida. Mas refletir sobre a justiça e a Boa Vida não é algo que simplesmente possamos fazer enquanto estudiosos ou indivíduos. Para refletir verdadeiramente sobre a Boa Vida é necessário deliberar com outros, com concidadãos. Quem passa a sua vida simplesmente num negócio, ou simplesmente a tomar conta do seu lar, perde algo, e o que perde é a experiência de tomar responsabilidade, partilhar a responsabilidade pelo destino da comunidade no seu todo, porque apenas pelo envolvimento neste tipo de prática política e deliberação, sentindo o peso da responsabilidade pela comunidade, adquirimos as competências de julgamento que são essenciais para desenvolver plenamente as nossas capacidades humanas.
Michael Sandel

Camila Rodrigues

Mulheres à Obra


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