Autenticidade na comunicação online: “acreditem em mim, estou a mentir-vos”

Autenticidade na Comunicação Online: Um Desafio para Mulheres Empreendedoras

Na era digital, a comunicação online tornou-se um dos pilares fundamentais para o sucesso de qualquer negócio e, para as empreendedoras, a importância de marcar presença nas redes sociais e em outras plataformas digitais é uma estratégia essencial de divulgação e venda. No entanto, o desafio de manter uma comunicação autêntica tem-se tornado mais evidente à medida que os ensinamentos do marketing digital conduzem à criação de conteúdos estereotipados, que retiram a espontaneidade e genuinidade dos conteúdos produzidos.

Neste artigo, exploraremos como o foco em técnicas agressivas de marketing pode prejudicar a autenticidade e como mesmo entidades à partida credíveis, como os meios de comunicação social, são facilmente manipulados (e manipuladores) quando cedem à tentação de maximizar o seu alcance online. Para isso, iremos usar como referência o livro de Ryan Holiday, “Acreditem em mim: estou a mentir-vos: confissão de um manipulador dos meios de comunicação social”.

O Perigo do Marketing Digital Estereotipado

Muitas vezes, as empreendedoras são aconselhadas a seguir fórmulas estabelecidas para construir a sua presença digital. Estas fórmulas, que incluem desde o tipo de conteúdo até à frequência de publicações e estratégias de envolvimento com o público, têm o objetivo de maximizar o alcance e a visibilidade. No entanto, a padronização da comunicação pode transformar mensagens que deveriam ser autênticas num eco de uma estratégia previsível, desconectando a marca da sua audiência real.

Técnicas como a utilização de “clickbaits”, a repetição de fórmulas para captar “leads”, e a uniformização de estilos de comunicação, muitas vezes resultam em perfis digitais que parecem robots a seguir um guião. Em vez de humanizar as marcas, essas práticas acabam por desumanizar a comunicação, criando uma barreira entre a empreendedora e o seu público-alvo.

A falta de autenticidade da comunicação agrava-se quando a empreendedora utiliza argumentos de persuasão que não se encontram devidamente fundamentados na realidade. A tendência para exagerar resultados e fazer promessas que dificilmente podem ser realizadas e envolvem o cliente num esquema de vendas em que é compelido a adquirir cada vez mais produtos/serviços, é um fenómeno bastante frequente.

A Manipulação dos Meios de Comunicação Social

Para além da comunicação estereotipada e pouco autentica utilizada frequentemente na divulgação dos nossos negócios, a necessidade de gerar seguidores e interação, que se torna a prioridade para muitas entidades que se movem nas redes sociais, pode originar comportamentos ainda mais preocupantes, que afetam nomeadamente a informação que consumimos cada vez mais online.

Utilizando como referência os meios de comunicação social que diariamente nos informam sobre os acontecimentos relevantes na nossa sociedade e nos ajudam a compreender o mundo em que vivemos, Ryan Holiday, no seu livro, demonstra como as técnicas de manipulação dos Media têm sido utilizadas para distorcer a verdade e manipular perceções.

Ele revela como, por trás de muitos conteúdos que consumimos diariamente, existem intenções de manipulação projetadas para provocar uma reação imediata, muitas vezes à custa da autenticidade. Nas suas palavras:

“Aqueles que escrevem para a Web acordam de manhã não a sonhar com considerações de moral ou de qualidade, mas com o número de cliques”.

Embora o contexto de Holiday esteja focado nos meios de comunicação em massa, o princípio aplica-se também à comunicação digital no empreendedorismo: ao seguirmos cegamente as regras do marketing digital, podemos perder de vista a nossa verdadeira voz.

No livro de Ryan Holiday, é explorada a forma como os media são manipulados para gerar reações específicas, frequentemente com base em desinformação ou em exageros calculados. Esta realidade está presente também nas redes sociais, onde o algoritmo favorece conteúdos polarizadores e sensacionalistas, encorajando muitas empreendedoras a adaptar as suas mensagens para maximizar o impacto.

Holiday partilha como, através de estratégias bem pensadas, foi capaz de manipular a perceção do público e dos jornalistas, criando histórias e narrativas que se tornaram virais. O problema, no entanto, é que este tipo de comunicação nem sempre é baseada na verdade ou na autenticidade. Ao procurar desesperadamente a atenção online, as empreendedoras correm o risco de cair nesta mesma armadilha, produzindo conteúdos que se afastam dos seus valores e da sua missão.

As mulheres empreendedoras, em particular, podem sentir uma pressão adicional para se conformarem com estes moldes, especialmente num ambiente digital altamente competitivo. No entanto, a autenticidade continua a ser uma das maiores forças diferenciadoras de qualquer marca. Ao partilhar histórias genuínas, valores reais e uma comunicação transparente, é possível criar uma conexão mais profunda e significativa com o público.

A Importância da Autenticidade

Ser autêntica nas plataformas digitais não significa ignorar completamente as estratégias de marketing, mas sim encontrar um equilíbrio entre as técnicas que funcionam e a verdadeira essência da tua marca. É fundamental lembrar que as pessoas estão cada vez mais conscientes das tentativas de manipulação e, com o tempo, tornam-se imunes ao conteúdo excessivamente calculado.

O marketing digital oferece ferramentas poderosas, mas é crucial usá-las de maneira a amplificar a autenticidade, e não a sacrificá-la. Por exemplo, em vez de seguires tendências de conteúdo que não estão de acordo com os teus valores ou com a missão da tua marca, procura criar conteúdos que contem a tua história de uma maneira que seja verdadeira para ti.

O livro de Ryan Holiday oferece um alerta valioso sobre os perigos de se comprometer com práticas de comunicação manipuladoras. Ele lembra-nos que a verdade e a confiança são os bens mais valiosos que uma marca pode ter e, uma vez quebrada essa confiança, é extremamente difícil reconstruí-la.

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