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Restaurar a fertilidade naturalmente

No mundo industrializado, cada vez mais casais encontram dificuldades em conceber naturalmente. Sem dúvida, diagnosticar a causa desta dificuldade é tarefa que compete à Medicina. No entanto, muitas vezes encontramos casos de infertilidade “inexplicada” onde já foram excluídas causas médicas evidentes, o que deixa os casais muito frustrados e desorientados.

Por vezes, estas investigações deixam de lado alguns fatores que estão inquestionavelmente ligados à infertilidade, como malnutrição e stress. A notável desconexão e desconhecimento do funcionamento do corpo feminino é também um obstáculo a não subestimar, mas é frequentemente ignorado.

Trabalhar estas vertentes implica adotar uma ótica global e holística da saúde, e deixar de olhar para o corpo como se se tratasse de uma máquina que avariou. Quais são então os aspectos principais a examinar com um novo olhar?

Restaurar  o ciclo menstrual

O ciclo menstrual é frequentemente anulado, durante anos, pelo uso generalizado dos contraceptivos orais. Uma mulher pode ter tido muito poucos períodos menstruais verdadeiros até o momento de tentar engravidar. E, ao longo deste tempo todo, pode perfeitamente não ter tido oportunidade de saber que os sangramentos regulares que observou durante a toma da “pílula”, não eram em absoluto menstruações, mas apenas sangramentos induzidos artificialmente, sem função alguma a não ser “psicológica”.

Segundo o paradigma convencional na sua vertente mais radicalmente mecanicista (“o corpo é uma máquina”), este quadro não tem algum tipo de consequência negativa sobre a fertilidade. No entanto, se já dentro do próprio paradigma existe a consciência da relação entre fatores emocionais e sistema endócrino, nos perguntamos como se pode ignorar o peso da profunda desconexão psicológica com este aspeto tão fundamental e básico da sexualidade que é o normal funcionamento do corpo feminino.

Para além disso,  considerando que o eixo hormonal pode demorar alguns anos a se estabelecer, e que muitas raparigas começam a contracepção hormonal antes que isto tenha acontecido, será assim tão inócuo anular o ciclo menstrual durante anos a fio?

É essencial então aprender a fisiologia do ciclo menstrual (que, por incrível que pareça, poucas mulheres conhecem a fundo), e conhecer  o Fertility Awareness Method, método que permite fazer um “mapa” preciso de cada ciclo, e que nos permite monitorizar a nossa fertilidade para tomar as medidas adequadas, quer no caso de querermos engravidar, quer no caso contrário. Através destes aspectos mais cognitivos, acontece com frequência o encontro (ou o reencontro) fluido e psicologicamente saudável com a nossa feminilidade esquecida.

Fatores nutricionais

A alimentação é um aspeto fundamental do estilo de vida e pode ter uma influência direta ou indireta na fertilidade, considerando que:

– A exposição ambiental a toxinas de vária natureza (metais pesados, xenoestrogénios, e outros disruptores hormonais) está frequentemente ligada à dieta;

– Deficiências nutricionais específicas podem afetar a fertilidade;

– A sobrecarga constante dos órgãos digestivos e excretores tem uma série de consequências nefastas sobre qualquer aspeto da saúde, incluindo a saúde do aparelho reprodutor e do sistema endócrino.

O maior estudo sobre a relação entre fertilidade e alimentação (o Harvard Nurses’ Health Study) tem de facto comprovado que existem seis vezes mais probabilidades em conceber nos casais que seguem uma determinada dieta.

Uma dieta saudável pode e deve ser altamente prazerosa. É uma questão de educação nutricional isenta de modas e mitos. Desta forma, será natural assumir hábitos alimentares saudáveis para o resto da vida, com grandes benefícios em todas as fases da vida.

Ajuda aos mecanismos de desintoxicação

A toxicidade ambiental tem sido associada a infertilidade, subfertilidade, perda gestacional, e outros problemas a nível fetal. Os tóxicos mais prejudiciais para a fertilidade incluem metais pesados (sobretudo chumbo, mercúrio e cádmio), pesticidas, estrogénios sintéticos, compostos orgânicos voláteis e radiação.

Naturalmente a contaminação ambiental é universal e, até certo ponto, inevitável. No entanto, muito pode ser feito para limitar ao máximo esta sobrecarga. Já falámos da alimentação, mas há também outros hábitos que podem ser modificados neste sentido.

O tabaco e o álcool são exemplos óbvios, mas  existem outros fatores menos falados, como por exemplo o uso de determinados cosméticos ou produtos de limpeza, ou o contacto diário com materiais como o plástico, que é já ubíquo nos nossos alimentos.

Muitas vezes esta sobrecarga não é (ainda) mensurável por parâmetros laboratoriais. No entanto, as investigações sobre inflamação generalizada revelam um panorama de desequilíbrios muito amplo.

Práticas seguras como uma correta higiene intestinal (que passa mais uma vez pela alimentação), o exercício físico, a terapia fitoterápica entre outras, assim como conhecer os produtos que temos que evitar no dia-a-dia, podem fazer muito pela nossa capacidade de desintoxicação.

Práticas de gestão do stress

Existe nitidamente uma relação direta entre a fertilidade e o stress. O stress é tanto uma vivência emocional como uma experiência endócrina. Níveis altos de cortisol afetam negativamente o ciclo menstrual e existem muitos outros mecanismos pelos quais o stress afeta negativamente a fertilidade.

Os casais que encaram problemas de fertilidade estão ainda submetidos a elevados níveis de stress adicional, chegando a necessitar de apoio psicológico.

É importante conhecer e praticar estratégias de gestão do stress que visem o bem-estar psico-físico, como Acupuntura, Yoga, Meditação, Massagem e Acupressão, Fitoterapia, etc.

Ir mais devagar

Vivemos numa cultura que quer rapidamente encontrar “a” causa dos nossos problemas e atuar de fora para dentro para a resolver. Sem dúvida, intervir é muitas vezes o mais sensato a fazer, mas vamos tentar não esquecer que a fertilidade é uma expressão direta da nossa saúde. Se na nossa casa disparar o alarme do detetor de gás ou de fumo, não o vamos simplesmente desligar para que não  incomode, certo? Então, por quê fazer algo parecido com o nosso corpo?

Nesta área tão complexa e misteriosa que é a Fertilidade, de momento não há como ter todas as resposta, mas é preciso saber formular as perguntas certas e sobretudo estar dispostas a aceitar que as respostas não vão ser imediatas, nem simples. No entanto, refletir sobre elas vai dar-nos provavelmente pistas para novos caminhos muito positivos para todos os aspectos da nossa vida.

Antonella Vignati

Saúde Integral da Mulher

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