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Cuido bem do meu cabelo?

Castanho, ruivo ou loiro, curto ou comprido, liso, encaracolado ou crespo, com ou sem volume, todos nós reconhecemos a importância que o cabelo tem nas nossas vidas. A verdade é que ele não só diz muito sobre a nossa
personalidade, como também influencia a nossa forma de estar na vida, de nos sentirmos confiantes, de enfrentar os desafios assim como de nos sentirmos bem com quando nos vemos ao espelho.

Quando temos uma cerimónia, uma entrevista de emprego ou um encontro romântico, tudo o que queremos é que o nosso cabelo esteja impecável. Afinal, o cabelo é sem dúvida um cartão de visita e dita muito numa primeira
impressão.

E desengane-se quem pensa que este é um tema apenas dedicado a mulheres. No passado os cuidados capilares foram muito impulsionados pelos homens, vejamos na história:

ANTIGO EGIPTO, 1500 a.c.:

Há mais de 4000 anos, Ramsés II já usava uma peruca até aos ombros para camuflar a sua calvície, facto comprovado pela sua múmia que apresentava poucos cabelos. Nesta época acreditava-se que receitas com óxido de ferro,
chumbo vermelho, cebola, mel e alabastro mantinham o cabelo por mais tempo. E deviam ser ingeridas após invocar ao Deus Sol: “Ó Brilhante, tu que pairas acima! Ó Disco do Sol! Ó Protetor do Divino!” Em 1100 a.c., homens calvos esfregavam gordura de leões, hipopótamos, crocodilos e serpentes no couro cabeludo, com a finalidade de manter o
cabelo, mas sem sucesso.

GRÉCIA ANTIGA, 460-370 a.c.:

Hipócrates, o médico grego, considerado o pai da medicina moderna, quando percebeu que estava a perder cabelo, desenvolveu um tratamento para evitar a queda e assim mantê-lo: uma mistura de ópio, raiz forte, fezes de pombo, beterraba e várias especiarias eram aplicadas no couro cabeludo, mas não funcionou e acabou por perder todo o cabelo.

ROMA ANTIGA, I a.c.:

O poeta romano Ovídio escreveu: “Feio é o campo sem erva, o mato sem folhas e a cabeça sem cabelo”. Mas a calvície não era apenas uma questão de estética. Na Roma Antiga, o cabelo era um símbolo de poder, fertilidade, coragem e virilidade. Júlio César, o célebre general conquistador da Gália e líder da República romana, começou a ficar careca ainda jovem e isso era um problema. Para disfarçar a calvície, criou um penteado: deixou crescer o cabelo que restava, na parte de atrás de cabeça, e penteava-o sobre a careca até a testa. Para segurar o cabelo, usava gordura animal e a coroa de louro.

Em Inglaterra, o rei Carlos II sempre foi adepto da peruca, primeiro de cor preta e depois castanha. A peruca tornou-se assim popular, o que levou a uma enorme procura por cabelos naturais. Na falta deles, usava-se crina de bode e de cavalo, ou fibra vegetal. Eram polvilhadas com pó branco. Um tratamento popular entre os calvos romanos era esfregar mirra no couro cabeludo. Na falta dessa especiaria cara e rara, restava optar pelo penteado estilo Júlio César.

IDADE MÉDIA:

Nesta época, a igreja considerava os cuidados capilares sinal de vaidade e sedução; aqui os homens começaram a colocar de lado os cuidados capilares com medo de serem castigados pela doutrina que seguiam. Mesmo assim, as mulheres não deixaram de cuidar das suas longas cabeleiras e continuaram em busca da fórmula mágica para evitar a sua queda: “Pegue em rosas frescas ou secas, murta, banana-da-terra, cascas de bolotas e castanhas; ferva-os em água da chuva e com essa água, lave a cabeça, de manhã e à noite.

IDADE MODERNA:

O século XVII, na Europa, foi a época de ouro das perucas masculinas e femininas. A moda começou em França, com Luís XIII. O seu sucessor, Luís XIV, famoso na juventude por ter uma cabeleira farta, passou a usar peruca quando ficou calvo, aos 32 anos. Em Inglaterra, o rei Carlos II sempre foi adepto da peruca, primeiro de cor preta e depois castanha. A peruca tornou-se assim popular, o que levou a uma enorme procura por cabelos naturais. Na falta deles, usava-se crina de bode e de cavalo, ou fibra vegetal. Eram polvilhadas com pó branco. Os peruqueiros tornaram-se profissionais requisitados. Diz-se que o rei francês Luís XV tinha a seu dispor 40 peruqueiros.

NA ATUALIDADE:

Nos dias de hoje, o transplante capilar é procurado não só por mulheres, mas também por homens que, inconformados, procuram reaver os seus belos fios que outrora eram a moldura do seu rosto. Felizmente dispomos de meios de diagnóstico e tratamento bem mais avançados. A cosmética capilar é uma das indústrias que mais cresce,
oferecendo tratamentos cada vez mais específicos e direcionados para as necessidades do consumidor mais exigente.

Surgem assim no mercado produtos capilares cada vez mais preocupados com o meio ambiente, não só nos princípios ativos que utilizam, na ausência de testes em animais, como também nos materiais utilizados no seu embalamento. Caminhamos para uma era mais VEGAN e CRUELTY FREE.

GENÉTICA e EPIGENÉTICA, o que influencia mais?

Se há bem pouco tempo se acreditava que o cabelo que apresentávamos era resultado da herança genética que tínhamos recebido dos nossos antecedentes, a verdade é que esta apenas influencia 10%. Já a epigenética, que é nada mais nada menos, o nosso estilo de vida, as nossas rotinas, a forma como nos alimentamos e descansamos, o stress a que estamos acometidos diariamente, tudo isto vai influenciar e muito o cabelo que temos. Assim, se não estás satisfeito(a) com o teu cabelo, deixo-te algumas dicas que te podem ajudar. São pequenos pormenores que fazem
toda a diferença.

QUANTAS VEZES LAVAS O TEU CABELO?

Esta é uma pergunta que faço constantemente a quem se senta na cadeira do meu salão. A resposta é sempre a mesma, uma ou duas vezes por semana, conforme o tempo e a vontade. Pois é, se eu te disser que não há um número certo de lavagens semanais talvez te cause algum conforto. Mas pensar que lavar o cabelo todos os dias prejudica a saúde dos fios é um mito muito perigoso.

No nosso couro cabeludo, assim como na nossa pele existe um manto hidrolipídico (composto por água e gordura) que quando em equilíbrio vai para além de regular a temperatura também vai ajudar na proteção contra
microrganismos. É produzido pela glândula sebácea e sudorípara.

E esta produção é influenciada por vários fatores, daí não haver número certo de lavagens semanais, pois cada pessoa vai ter uma necessidade especifica. Algumas pessoas vão precisar de lavar o cabelo todos os dias e outras lavam uma vez por semana e continuam sem oleosidade evidente. O importante é não ter o couro cabeludo demasiado oleoso, pois a proliferação de bactérias e fungos vai aumentar e potenciar o aparecimento de descamação, inflamação, dermatites e até queda de cabelo.

Então este é o meu conselho de especialista: é preferível lavar o cabelo todos os dias se necessário a mantê-lo demasiado oleoso.

QUAL O CHAMPO INDICADO?

Depende da necessidade do cada couro cabeludo. Normalmente, procuramos um champô para cabelo pintado, com madeixas ou a precisar de reconstrução, mas tudo isto deve ser resolvido com a máscara e não com o champô. Para além de só agir enquanto está em contacto com o couro cabeludo, também pode limpar em demasia os fios de cabelo, pois o champô é um detergente que de uma forma simplificada se vai agarrar à sujidade e fazer com que esta seja arrastada pela água.

Então procura um champô adequado para o teu couro cabeludo, que pode ser seco, normal, oleoso ou até sensível. Não deixar resíduos de champô no couro cabeludo também é muito importante, uma vez que vai irritar a pele e causar
descamação no local.

QUE TEMPERATURA DA ÁGUA USAR?

Não disse que eram pormenores que faziam a diferença?! Aqui está mais um. Quanto mais quente for a água, mais as glândulas sebáceas vão ser estimuladas e vão tornar o couro cabeludo oleoso. Os fios também vão ficar mais secos, pois as suas cutículas vão dilatar e perder hidratação e ficar mais porosas. Com o tempo, vão ficar com pontas espigadas e começar a partir. No inverno é quando se abusa mais da temperatura da água. Logo, água morna ou a tender para a fria é o ideal. Mas não precisa de ser gelada. Assim, vais também manter o cabelo mais brilhante e mais resistente, pois a água fria mantém as cutículas do cabelo fechadas.

COMO LAVAS O TEU CABELO?

A pele do couro cabeludo, embora pareça mais resistente, é extremamente sensível e qualquer agressão vai causar uma reação de proteção pelo sistema imunitário. Esfregar com as unhas para ficar bem lavado é tudo o que não deves fazer. As unhas vão causar pequenas feridas, impercetíveis a olho nu e como resposta vão ser produzidas mais células e sebo, resultando em descamação e oleosidade. Assim deves optar por usar a ponta dos dedos.

COSTUMO DORMIR COM O CABELO MOLHADO, INFLUENCIA?

Quando nos deitamos com o cabelo molhado ou apenas húmido, vamos criar dois danos. Um deles é no couro cabeludo. Calor, humidade e escuridão é o cenário perfeito para a proliferação de fungos que vão causar a caspa, dermatite e até queda capilar. O segundo dano acontece nos fios. O cabelo molhado é mais sensível ao atrito e vai provocar alterações na sua estrutura, ficando mais embaraçado e quebradiço, principalmente os cabelos que sofreram processos de descoloração.

Assim deves evitar lavar o cabelo à noite ou aplicar um protetor térmico e secar o cabelo na totalidade. A tua almofada vai agradecer e o teu cabelo também. Seja qual for a tua queixa capilar, a solução começa pela higienização correta. Agora, já sabes o que podes melhorar.

Cristina Araújo
Mentora de cabeleireiros profissionais
Autora de Especialista em coloração,
Master colorista e Terapeuta Capilar.
https://www.cristina-araujo.pt/
Instagram e facebook:
@cristinaaraujoformadora


Imagem de Ryan McGuire por Pixabay

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