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Competências High Touch – as competências do Séc. XXI

Se até há bem pouco tempo grande parte das organizações era fortemente orientada por um paradigma de recrutamento high tech, com enorme valorização das competências técnicas e tecnológicas dos seus colaboradores, começa hoje a emergir a necessidade de recentrar no homem aquilo que é do homem.

As tendências recentes no domínio da inteligência artificial, dos materiais nano estruturados, da biologia sintética, da engenharia metabólica e da energia sem fios, entre outros, ameaçam a empregabilidade massiva dos profissionais high tech.

Num cenário em que existem já previsões sobre os “danos colaterais” dos avanços emergentes ao nível por exemplo da robótica avançada, os quais poderão fazer 5 milhões de desempregados até ao final de 2020, urge identificar a marca distintiva do homem face à máquina. E é aqui que as habilidades sociais e criativas começam a conquistar terreno.

Competências High Touch

E falar de habilidades sociais e criativas é regressar a “A nova inteligência” de Daniel Pink [1] e recuperar a sua visão e investigação sobre aquilo que considera serem as habilidades críticas para o século XXI, as quais designou por habilidades high touch.

Exemplifica o autor que ingressar hoje na Escola de Gestão de Harvard é mais fácil do que fazê-lo no Departamento de Artes da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), pois as empresas procuram incessantemente trazer a estética e a beleza ao que comercializam, fazendo com que as pós-graduações em áreas artísticas sejam uma das qualificações mais valorizadas.

Por outro lado, profissões que evoluíram ao longo dos tempos com muito suporte tecnológico – tome-se o caso da medicina, por exemplo – e que funcionam com base naquilo que o autor designa por “interesse distanciado”, estão a caminhar no sentido da empatia, não por considerarem o modelo anterior desadequado, mas antes insuficiente.

O organismo responsável nos EUA pela acreditação das faculdades de medicina, estabeleceu já a comunicação eficiente e empática com os pacientes como um critério de avaliação geral dos estudantes desta área e a Faculdade de Medicina da Universidade Thomas Jefferson, em Filadélfia, por exemplo, desenvolveu um instrumento para medir esta aptidão que designou por JSPE – Jefferson Scale of Physician Empathy.

Também no World Economic Forum de 2016, no relatório The Future of Jobs [2]se apontavam as tendências ao nível da evolução do emprego e das competências, reforçando-se uma enorme tendência disruptiva a 5 anos com os modelos de negócio e mercados de trabalho atuais. Na página 20 do referido relatório, referia-se que em média, em 2020, mais de 1/3 dos perfis de competências para a maior parte das ocupações, seriam constituídos por competências que não eram, à época, consideradas cruciais.

E que competências são essas?

Entre outras, resolução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, capacidade de se coordenar com outros, inteligência emocional, capacidade de discernimento e de tomada de decisão, orientação para o serviço, negociação e flexibilidade cognitiva.

O cenário desta nova ascensão das competências relacionais e transversais está traçado. O desafio que se nos apresenta, hoje, é o de desenvolvermos, massiva e continuadamente, estas capacidades.

Esta última questão remete-nos para o conceito de sobriedade emocional. Não é possível desenvolvermos competências de human touch se não possuirmos nós próprios sólidas competências de sobriedade emocional. Dito de outra forma, eu não serei capaz de me relacionar de forma saudável com outros se não possuir uma relação saudável comigo próprio.

Por sobriedade emocional entendemos a arte de nos libertarmos de condicionamentos culturais, de opiniões alheias e de crenças instaladas em fases precoces da existência sobre quem “deveríamos ser”. Implica também libertarmo-nos da escravidão relativamente aos nossos estados emocionais, de experienciarmos as emoções que os acompanham, de as respeitar, mas, em simultâneo, de lhes responder como respondemos a outros tipos de informação, não nos transformando na própria emoção.

Desenvolver sobriedade emocional implica, entre outras coisas:

  • O desenvolvimento de competências que coloquem o meu centro de gravidade emocional dentro de mim próprio e não dependente de fatores externos;
  • Saber “aceder a” e manter, um estado emocional saudável mesmo em presença de situações desafiadoras, perturbadoras ou que estão fora do meu controlo;
  • Aceitar as minhas “imperfeições” desenvolvendo uma espécie de liberdade emocional que permita trazer autenticidade e congruência à minha vida.

 

John Grinder, co-criador da PNL e do Novo Código da PNL possui uma reflexão muito interessante em que, de forma clara, evidencia que o estado emocional é uma escolha, ao afirmar: o problema nunca é o problema – o problema é o estado em que eu me coloco quando “entro” no problema.

E se, afinal, os nossos estados emocionais são uma escolha, porque não passarmos a ser cada vez mais conscientes do impacto das escolhas que fazemos a cada momento, nas nossas vidas e nas vidas dos que nos rodeiam?

 

Paula Trigo

CEO da Xpand Pro – Coaching, Formação e Consultoria
paulatrigo@xpand.pt

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