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O Feng Shui Simbólico – Segredos para uma Casa Feliz

Uma casa é mais que apenas um local. É uma estrutura física, psíquica e energética de conexões profundas.

A abordagem que aqui apresento baseia-se nos conhecimentos ancestrais chineses, mas é adaptada ao aqui e ao agora. É importante reforçar a importância da adaptação deste conhecimento, de traduzir esta informação oriental milenar para o presente, adaptando-a à nossa realidade geográfica e cultural sem desvirtuar os seus princípios fundamentais.

Trata-se, pois, de um método pessoal, isto é, que tem vindo a ser codificado e gerado através da minha experiência pessoal como consultora mas, mais importante, da minha experiência na minha própria casa e vida.

Ao longo desta viagem, que para mim começou no ano de 2002, tenho praticado activamente no meu espaço privado. Por outro lado, tenho vindo a organizar toda a informação e conclusões. Toda esta sistematização não serve para criar novos dogmas, mas sim um novo método. É simplesmente o reflexo da minha experiência. Tudo o que aqui está descrito são sugestões que reflectem a minha experiência e que não devem servir como receitas fechadas.

Esta abordagem simbólica não é, nem pretende ser, o método do chapéu negro, mas antes uma abordagem única com especificações diferentes.Nesta forma de praticar feng shui, há uma aproximação interpessoal, onde os habitantes são incentivados a tomar responsabilidade pelo seu próprio processo de cura e transformação.

É criado espaço e tempo para os processos pessoais de autoconhecimento, de purificação e de aceitação. É necessária disponibilidade e dedicação ao processo.É uma tomada de consciência plena das nossas crenças e símbolos e de como estes povoam, decoram e convivem na casa que habitamos.

 

Mitos e feng shui

Não há soluções universais. Enquanto praticante desta arte, não me revejo em artigos de dicas ou de sugestões simplistas, que muitas vezes induzem em erro, metem medo e nunca têm em consideração a especificidade de cada casa e de cada habitante.

O feng shui não é teórico, mas sim prático, tem tudo que ver com a experiência individual dos locais que habitamos. Quando tentamos aplicar receitas ou regras sem saber de onde vêm, corremos o risco de pôr em prática coisas que não façam verdadeiro sentido para o local onde vivemos.

Um dos estudos que tenho feito nos últimos anos tem sido descobrir a raiz prática e vivencial das receitas de feng shui mais disseminadas hoje em dia. Porque todas elas têm uma origem prática e de sobrevivência.

 

A relação com a casa é individual ou depende de regras universais? Na verdade, um pouco de ambos, por isso se chama cocriação.

 

Claro que existem conceitos universais de um espaço seguro, tais como a luminosidade e o conforto térmico, mas o feng shui está também repleto de ideias e conceitos que vêm do seu contexto original, a China milenar.

Dou três exemplos:

  • A porta da casa de banho deve estar sempre fechada é, talvez, o mito mais disseminado em feng shui. Na antiguidade não havia casas de banho como hoje. Havia latrinas no exterior, que cheiravam mal e traziam riscos reais para a saúde. Naturalmente que não dormir ou cozinhar perto destes locais pútridos era uma regra básica de sobrevivência. Esta imagem viajou no espaço e no tempo até aos dias de hoje, criando um dogma de que a casa de banho tem de estar sempre fechada para que não contamine o resto da casa. No entanto, as casas de banho de hoje, ao estarem perfeitamente funcionais, são locais de limpeza, e, caso não haja cheiros, entupimentos ou outro tipo de manifestações, não há qualquer problema em manter a porta entreaberta.
  • O fogão nunca deve estar ao lado ou em frente ao lava-loiça. Na Antiguidade, a manutenção do fogo, para cozinhar, iluminar e aquecer, era algo fundamental à vida. Esse fogo valioso podia fazer a diferença entre sobreviver ou não durante mais uma noite. Em termos práticos, este fogo devia ser mantido a todo o custo e, como todos sabemos, a água apaga o fogo. Ter água demasiado perto do fogo podia potenciar acidentes em que este se apagava. Uma vez mais, esta regra básica de segurança viajou até aos dias de hoje, onde é aplicada de forma indiscriminada para se «ter bom feng shui». Acontece que já não se aplica, primeiro, porque os lava-loiças servem exactamente para usar a água para lavar e cozinhar, de forma controlada. Segundo, porque a própria manutenção da chama está hoje em dia muito facilitada, havendo até fogões sem chama, pelo que esta não corre o risco de ser apagada.
  • Espelhos para trazer zonas da casa em falha — uma das receitas mais comuns na aplicação contemporânea do feng shui, em que se usam os espelhos para «ir buscar»uma zona em falha no caso de a planta da casa não ser regular: sugere-se colocar espelhos para anular a falha estrutural. É suposto o espelho ir buscar energia atrás, curando assim a ausência estrutural em termos energéticos. No entanto, como todos sabemos, os espelhos atrás são opacos (daí reflectirem à frente). Eles não «vão buscar» nada atrás, pelo contrário, reflectem o que têm em frente, não rectificando a falha atrás, mas duplicando a energia da frente. Além do mais, pode não ser negativo haver falhas na estrutura da casa!

 

O feng shui não deve ser tragédia, é uma ferramenta de soluções. Não deve servir para nos criar mais medo ou aflição, mas sim para nos ajudar a encontrar soluções válidas.

 

Como estes exemplos, há muitos outros que foram transportados directamente de uma realidade para outra, ficando descontextualizados e muitas vezes sem sentido. Ora, se feng shui é contexto, temos de ter em conta estas diferenças, olhando para o nosso contexto real e não para teorias que não se aplicam à nossa realidade.

 

A casa ideal e a casa real

A vivência do feng shui é uma descoberta, mas não necessariamente uma surpresa. São redescobertas espaciais, emocionais e temporais.  Um relembrar de coisas que fazemos de uma forma natural, mas que ao longo do tempo vamos esquecendo e racionalizando, complicando e perdendo a simplicidade da vivência plena no presente. Basicamente, o feng shui serve para alinhar, física e emocionalmente, e chegar às raízes das nossas questões.

 

Passamos tanto tempo das nossas vidas a racionalizar, tentando apurar a lógica de tudo o que nos rodeia, que deixamos passar despercebida a linguagem metafórica, simbólica e intuitiva que nos circunda.

 

É importante que não tentemos domesticar e controlar completamente a nossa casa, ela deve ter a capacidade de nos surpreender. Quando nos interessamos por feng shui, começamos a ler, a estudar, e ficamos com uma ideia muito racional desta ancestral arte oriental. Passamos a achar que as coisas e as casas têm de estar muito organizadas e muito arrumadas. Há a síndrome da casa museu, quando existem divisões inteiramente prontas e decoradas, mas não usadas, para não estragar. Nesta abordagem, a casa é para ser vivida. Se não vivemos a casa, não vivemos a vida. Ou, pelo menos, não em pleno.

 

É preciso não confundir uma casa bonita com uma casa equilibrada.

Uma casa esteticamente bonita ou arrumada não é necessariamente uma casa harmoniosa. Numa análise de feng shui, temos de olhar para além da estética e perceber como as várias camadas e dimensões da casa se interligam com os habitantes.

 

Existem duas polaridades, num dos extremos temos o caos e, no extremo oposto, o excesso de controlo sobre o nosso espaço. Nenhuma das duas vivências é saudável.

A questão da arrumação é principalmente uma questão prática e estética numa sociedade consumista. Nunca nos podemos esquecer destas duas polaridades, mas principalmente que o caos também pode ser criativo.

Não podemos comprometer uma vivência saudável da casa em função do que deve ou não ser arrumado e de como a casa deve ou não estar. Tenho feito algumas consultas a pessoas que têm como ponto de honra a casa muito arrumada, extremamente controlada.

Tudo em ordem, até o ângulo de arrumação das revistas, que também são catalogadas por temas e cores. Este tipo de controlo do espaço interno normalmente indicia uma sensação muito vulnerável perante o mundo exterior.

 

Oriente-se para a consciência na sua casa e não para a perfeição. O feng shui oferece soluções e não problemas. Dá-nos a chave da compreensão do simbolismo e linguagem da casa para que possamos compreender-nos melhor. Não almeje a perfeição, almeje a compreensão.

 

A casa é o nosso reflexo e extensão e deve ser confortável para quem a habita, deve ser prática e, idealmente, deve ter espaço, para que nos surpreenda. Há-de sempre haver pelo menos uma gaveta onde não conseguimos chegar e arrumar. Digo uma gaveta, mas há quem tenha armários ou mesmo divisões inteiras.

Há muita pressão social sobre a arrumação, que causa uma série de emoções como vergonha ou culpa de não conseguir cumprir os padrões sociais de arrumação. O que quero transmitir é que feng shui não é sinónimo de arrumação. Pode ser uma via para arrumar, limpar e clarificar, mas é um processo muito mais profundo do que a acção de arrumar.

Não estou a dizer que a arrumação seja má, mas também não estou a dizer que o caos é completamente negativo e mau. Existe um meio-termo. Há pessoas que vivem a sua casa mais na polaridade da arrumação e outras na polaridade do caos.

O que interessa é encontrar o equilíbrio no espaço, no corpo e na vida. E quando precisamos ou somos empurrados pelas transformações da vida, sabermos agir conscientemente sobre a casa e sobre a eterna dinâmica do arruma/vive/desarruma.

 

Personalidade da casa

A casa e a sua estrutura física contêm uma série de características, não só físicas e funcionais, mas também energéticas. Todas estas características vão ressoar com os habitantes de diferentes formas, pois as casas são sem dúvida ambientes psicoactivos, ou seja, são activados de forma diferente pela personalidade de cada habitante.

No conjunto, pode dizer-se que todas as casas têm uma personalidade, têm uma identidade própria. É muito interessante quando começamos a rever os espaços que habitamos, pois pode haver uma fase de vida em que nos sentimos muito bem na casa e, de seguida, uma fase em que precisamos de sair, pois o espaço torna-se opressivo. Tudo o que a casa poderia dar-nos já foi cumprido. Nessa fase, se se proporcionar na nossa vida uma mudança de casa, esta será bem-vinda.

 

A sua casa acolhe a sua singularidade? Há espaço para o seu ser?

É também muito interessante quando começamos a viver e trabalhar a casa para além do físico, pois a perspectiva sobre o espaço muda naturalmente. A casa deixa de ser um depósito estrutural, funcional, mais ou menos rígido de nós e passamos a ser cocriadores da vida, juntamente com a energia fornecida pelo espaço que habitamos. A forma, função e energia de cada divisão influencia o modo como pensamos, sentimos e agimos nela.

Além destas influências, temos a experiência acumulada dos residentes sob a forma de sugestões ambientais sobre o que fazer em determinada divisão. Existe uma sintonia recíproca, tanto damos forma às casas como elas a nós. Os moradores deixam de ser entidades separadas, assumindo um comportamento interdependente com o espaço que habitam. Como diz Winifred Gallagher no seu livro House Thinking: «Quem tu és, é onde estás».

Com uma série de características físicas e energéticas únicas, a casa tem a sua própria personalidade e permite uma série de manifestações aos habitantes. Quer isto dizer que nos expressamos de formas diferentes em casas diferentes.

 

Texto adaptado do livro “Uma Casa Feliz”, Editora IN, Zero a Oito, 2019, de Sofia Batalha

Sofia Batalha

Criadora, Professora e Consultora do Método de FengShui Simbólico®, Lunar e Feminino®

Coordenadora do Curso de FengShui do Instituto Macrobiótico de Portugal

Autora da Coleção da Casa Simbólica e Uma Casa Feliz

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