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Podemos questionar o valor da Inovação?

Inovar

Inovação, sim ou não?

Hoje em dia a inovação é o «Santo Graal» da economia. Estamos tão encantados com a ideia da inovação, que esperamos a todo o momento que produtos e serviços inovadores surjam no mercado e revolucionem a nossa forma de pensar e de fazer as coisas.

A inovação está sempre presente no discurso dos responsáveis políticos, há prémios e distinções para projetos inovadores, entidades públicas e privadas investem fortemente em iniciativas inovadoras e todos os empreendedores ambiciosos e visionários têm a inovação como um dos seus pilares de ação.

Mas a inovação é um fim em si próprio, ou um meio para atingir determinados fins?

Há tipos de inovação que servem propósitos muito evidentes. Inovações no campo da medicina que permitem controlar ou mesmo curar problemas de saúde que antes representavam uma sentença fatal; produtos inovadores sustentáveis que permitem substituir outros que implicavam um grande custo ambiental; redes digitais inovadoras que facilitam a comunicação e o acesso de todos os cidadãos a informação essencial.

Os benefícios são tão evidentes que parece disparatado sequer questionar. Mas mesmo assim vamos colocar a questão:

Podemos considerar a inovação como um bem absoluto?

Apesar das aparentes evidências, a resposta a esta questão não é simples. A «Meca» da inovação, Sillicon Valley, não contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e equilibrada, com bem-estar para todos.

Na realidade, apesar de representar uma vantagem competitiva dos EUA perante potenciais competidores externos, ao nível interno o seu surgimento não se traduziu positivamente no crescimento do PIB, nem favoreceu o desenvolvimento de uma sociedade mais equilibrada ou com uma melhor qualidade democrática. 

O economista Joseph E. Stiglitz, laureado com o prémio Nobel em 2001, clarifica o caráter desconcertante da inovação com argumentos muito válidos:

  1. A rentabilidade de uma inovação não se traduz necessariamente na melhoria do nível de vida da generalidade da população. Frequentemente, promove a criação de monopólios que concentram os ganhos nas mãos daqueles que a desenvolveram, em prejuízo dos outros intervenientes no mercado.
  2. Em alguns setores, como no setor financeiro, foram desenvolvidas e implementadas formas inovadoras de contornar o sistema, com o propósito de manipular impunemente os mercados em benefício próprio, o que acabou por resultar numa crise global.
  3. Algumas inovações implicam a perda de empregos, de estabilidade profissional, de perspectivas de carreira, de segurança laboral e de proteção social para muitos cidadãos, que se tornam obsoletos quando as evoluções tecnológicas permitem a sua substituição por «máquinas».

Devemos então inovar a todo o custo?

Joseph E. Stiglitz tira uma conclusão assustadora: se há setores em que os benefícios da inovação são óbvios e inquestionáveis, há outros em que o seu impacto pode ser negativo ou mesmo irrelevante.

Falando em concreto da inovação tecnológica, o autor conclui que o seu contributo para a melhoria a longo prazo do nível de vida da generalidade da população é substancialmente inferior àquilo que os seus entusiastas reivindicam.

Significa isto que devemos abandonar o fascínio pela inovação? Acreditamos que não. A inovação é muito importante e pode representar benefícios sociais e ambientais evidentes, mas deve ser entendida como um meio para atingir estes objetivos e não como uma finalidade em si própria.

A Inovação é um Meio, não é um Fim

O paradoxo da inovação

Sobretudo, não devemos canalizar todos os recursos e reconhecimento para a inovação, esquecendo e desvalorizando abordagens tradicionais que podem trazer benefícios consideráveis para a sociedade em geral.

Há negócios e projetos de empreendedorismo muito interessantes, que podem não ser excepcionalmente rentáveis, não apresentar uma base tecnológica, ou ter um potencial astronómico para crescer e escalar, mas podem implicar abordagens alternativas ao mercado que contribuem para a criatividade, originalidade, proximidade, sustentabilidade, justiça e equilíbrio nas relações comerciais.

Na realidade, estes negócios podem ser inovadores de uma forma tão inovadora que muitos não a conseguem reconhecer, pois questionam o status quo, propõem novas prioridades sociais e ambientais, pensam no bem-estar colectivo e contestam o valor do crescimento a todo o custo.

 Desta forma, hoje em dia, «pensar fora da caixa» passa precisamente por conseguir ver para além da obsessão com as startups tecnológicas e os unicórnios da moda.

Vamos por isso lutar para que estes negócios também recebam o reconhecimento devido e os apoios necessários para prosperar na nossa economia.

Imagem de PIRO por Pixabay

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