Vida Quando o não deve ser sim Publicado em 29 de Outubro, 2019 “Não podes mexer aí”, “não te podes sentar no chão”, “não tires os sapatos”, “não escrevas nas paredes”, “não podes comer rebuçados”. A primeira etapa das nossas vidas, designada por infância, é, provavelmente, aquela em que mais vezes ouvimos a palavra “não”, muitas vezes seguida do verbo “poder”, o que na prática resulta na impossibilidade de fazer algo. Por mais ou menos grave que esse algo seja. E essa impossibilidade pode apropriar-se do nosso sistema cognitivo para o resto da vida, como se de uma limitação às nossas vontades e aos nossos desejos se tratasse. Isto não seria grave se pensássemos apenas em comportamentos tóxicos e disruptivos, aos quais devemos, efetivamente, conseguir dizer não. Porém, muitas vezes é aos nossos sonhos, aos nossos projetos, aos nossos desejos mais íntimos que estamos a negar a possibilidade de desenvolvimento e de ação. Quantos de nós já pensámos em mudar de profissão, mudar de cidade, voltar a estudar, pôr fim a uma relação que já acabou faz muito tempo, tirar um mês de férias, fazer uma viagem sem data de regresso? Muitos! E quantos o fizeram? Poucos. Porque no momento de pensar e tomar decisões todos os medos e dúvidas se apropriam da nossa mente. O medo de falhar, de não conseguir, de não ter a aprovação dos pais/companheiros/filhos, de ficar só. A dúvida sobre o desconhecido, o que virá depois ou a saudade do que fica para trás. Leia este e outros artigos na nossa Revista Mulheres à Obra Vivemos aprisionados nas nossas decisões ou na ausência das mesmas. E quando nos apercebemos temos quarenta, cinquenta, sessenta anos e a vida está a acontecer ao nosso lado. E continuamos dependentes da palavra não. Até quando? Até quando deixamos que a carga cultural e educacional que trazemos dos primeiros anos de vida nos influencie o presente e o futuro? A vida acontece no agora, dispensa repetições traumáticas e fantasmas que podem ser apenas uma desculpa. Vale a pena arriscarmos e atrevermo-nos. Vale a pena tentar ir atrás de um projeto, de uma ambição ou de uma nova vida. Se correr menos bem, acrescentamos ferramentas ao nosso mundo interno. Se correr bem, orgulhamo-nos do nosso percurso e da nossa capacidade de dizer sim! Maria Farinha Psicóloga Clínica Membro da OPP nº. 020805
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