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Emigrar com crianças – a aprendizagem da língua

aprendizagem de línguas

Emigrar é uma opção para uns e um sinal de esperança para outros.

Mas, independentemente do motivo que leva uma família a abandonar o seu país, muitas serão as dificuldades com que se irá deparar ao longo de todo o processo de transição e adaptação. O choque cultural, as novas rotinas, as saudades serão apenas algumas das barreiras que terão de ser ultrapassadas. O segredo é encarar estes obstáculos não como um problema mas como uma forma de crescimento intelectual e, até, de estreitamento dos laços familiares.

A emigração, as crianças, uma língua nova

Um casal que emigre com filhos tem sempre receios relativamente à adaptação das crianças, principalmente, no que refere à nova língua. Ser exposto a um novo ambiente escolar, com novos desafios e onde a comunicação se faz num idioma que não domina, pode ser realmente assustador, tanto para pais como para filhos.

No entanto, milhares de crianças por esse mundo fora já deram provas das suas extraordinárias competências linguísticas, quando expostas a um ambiente onde a língua dominante não é a sua língua materna.

Ainda assim, o receio dos pais é perfeitamente legítimo. E porquê? Simplesmente porque são adultos. Estão a analisar a questão da aprendizagem de uma nova língua partindo da sua própria perspetiva e não do ponto de vista da criança.

É sabido que as crianças aprendem línguas mais rapidamente do que os adultos e isto não se deve ao facto de serem, de alguma forma, portadoras de um dom especial, mas porque o seu cérebro processa a informação de uma forma diferente.

As fases de aprendizagem

Até aos 3 anos de idade, uma criança encontra-se na fase da aquisição da linguagem. É nesta fase que adquire a competência para se expressar verbalmente, na sua língua materna.

Se, entre os 3 e os 7 anos, a criança for exposta a uma nova língua, o seu cérebro irá processar toda a informação de uma forma “eficazmente desorganizada”. Ou seja, o cérebro de uma criança nesta faixa etária opera como uma esponja, que absorve todo o conhecimento linguístico que lhe é apresentado e, de forma autónoma, vai repetindo segmentos linguísticos que lhe são transmitidos e, gradualmente, começará, ela própria a criar os seus próprios segmentos, ou seja, frases.

Após os 7 anos de idade, o cérebro começa a processar a informação de uma forma mais estruturada e passa a funcionar como um armário com diversas gavetas, tudo devidamente organizado. A facilidade de aprendizagem ainda se mantém, no entanto, a partir desta idade, o processo começa a adquirir novos contornos, tornando-se, em certa medida, mais exigente.

Posto isto, é perfeitamente legítimo que os pais tenham receio. Sendo adultos, a aprendizagem de uma nova língua apresenta-se como um desafio bem mais complexo, embora exequível.

Aprender várias línguas em simultâneo

A par da aprendizagem da língua do país de destino, os pais vêem-se também confrontados com a questão da aprendizagem, em simultâneo, de outras línguas, vigentes no plano escolar. Por exemplo, no caso de um emigrante na Alemanha, terá de aprender alemão (língua do país para onde emigrou) e inglês ou francês (vigentes no plano escolar).

Ao contrário do que muitos pais, e até docentes, pensam, aprender diversas línguas em simultâneo não é prejudicial para uma criança, muito pelo contrário. O contacto com outras línguas permitir-lhe-á estabelecer paradigmas comparando as diferentes línguas em termos da estrutura frásica (sintaxe), da construção das palavras (morfologia) e também relativamente à sua sonoridade (fonologia).

Na Europa, esta questão parece pertinente, no entanto, se tomarmos como referência os países africanos, onde dominam as línguas “Bantu”, a realidade é outra. Cada tribo tem a sua língua e os casamentos entre pessoas de diferentes tribos obrigam a que uma criança tenha de aprender uma língua para comunicar com a tribo da mãe, uma para a tribo do pai, outra para a da avó, do avô, a língua falada no mercado local, etc. Estas crianças são prova irrefutável de que diversas línguas podem coexistir em apenas um cérebro.

Não há que ter receios. As crianças e as línguas são verdadeiros aliados e não há limites para as suas conquistas!

Sónia Patrícia Tavares


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