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Mulheres na Agricultura – entre a tradição e a inovação

A opção pela agricultura pode ser uma aposta interessante para muitas mulheres, principalmente aquelas que já se encontram em zonas rurais onde esta é uma atividade determinante ao nível local. Para estas mulheres, a agricultura pode constituir um complemento importante para o seu rendimento laboral e ser determinante para o sustento das suas famílias.

No entanto, o empreendedorismo agrícola pode também representar uma oportunidade de alcançar independência financeira, de implementar competências adquiridas e obter novos conhecimentos e de enveredar por um estilo de vida sustentável e saudável, longe das constantes exigências dos meios urbanos. De facto, cada vez mais as mulheres empreendedoras na agricultura são motivadas pelo desejo de produzir um impacto positivo no meio ambiente e nas suas comunidades mediante a adoção de práticas agrícolas sustentáveis que contribuam para o bem-estar social e a sustentabilidade ambiental.

As mulheres empreendedoras utilizam frequentemente recursos que estão facilmente disponíveis no campo, como terrenos ou edifícios agrícolas devolutos, que muitas vezes foram abandonados pela população mais jovem. Muitas estão também a produzir uma reconversão inovadora nas explorações agrícolas familiares tradicionais, que estão a reinventar segundo novos padrões e propósitos. Sobretudo, sobressai uma nova tendência em que a motivação reside menos no lucro e mais na realização profissional e pessoal mediante a adoção de um estilo de vida autodeterminado desenvolvido no contexto de uma comunidade funcional.

Naturalmente, as motivações podem variar amplamente entre as mulheres agricultoras. Cada empreendedora tem sua própria história, motivações e desafios específicos que influenciam a sua decisão de empreender nesta área. Contudo, no seu empreendedorismo agrícola, as mulheres partilham velhos e novos obstáculos. Apesar da sua forte motivação, as mulheres agricultoras ainda enfrentam estereótipos femininos tradicionais e processos de discriminação que exigem a realização de malabarismos financeiros entre segurança e risco. É a velha questão do equilíbrio entre a família e o trabalho que, na agricultura, assume uma dimensão preocupante, pois está por vezes em causa um trabalho árduo e de baixo estatuto, realizado em áreas deprimidas e com oportunidades limitadas.

União Europeia no apoio às Mulheres Agricultoras – Projeto DEMETRA

Perante este cenário, a União Europeia tem vindo a prestar apoio às mulheres na agricultura, nomeadamente por via do Programa Erasmus Plus, que tem financiado projectos neste âmbito. A título de exemplo, destacamos aqui o Projeto DEMETRA, que envolveu parceiros no Chipre, Grécia, Eslovénia, Polónia, República Checa e Alemanha. Nestes países foram identificadas necessidades e elaborada uma lista de competências relevantes para permitir que as mulheres trabalhem com sucesso enquanto empreendedoras na agricultura.

Com base nessas constatações, foram elencadas competências relevantes, nomeadamente na promoção da agricultura sustentável, que envolvam práticas inovadoras e amigas do ambiente ou a revitalização de competências tradicionais. Daqui resultaram diversas recomendações que são facilmente extensíveis ao contexto nacional:

• A política de desenvolvimento regional deve basear-se em sistemas de apoio sustentáveis ​​e participativos para mulheres empresárias agrícolas, tais como associações de mulheres rurais. Os processos burocráticos devem ser simplificados, facilitando o diálogo destas organizações com as entidades competentes e o acesso aos apoios financeiros disponíveis.

• O intercâmbio de melhores práticas e a visibilidade de modelos bem-sucedidos de empreendedorismo feminino devem ser apoiados publicamente.

• As mulheres precisam de apoio para equilibrar a vida familiar e o empreendedorismo. Devem ser fornecidas boas infra-estruturas públicas para cuidados a crianças e idosos, educação e transportes, especialmente nas zonas rurais.

• A educação e a formação em empreendedorismo agrícola devem adaptar-se ao que já está a funcionar. A educação e a formação devem adaptar-se às necessidades e recursos das alunas em termos de conteúdo, método de entrega e localização.

• Uma estrutura de ensino online e presencial, um horário flexível e uma organização modular, bem como uma certificação adaptada com elevado apreço pela competência profissional dos profissionais, devem ser reconhecidas e apoiadas.

• A segurança financeira e a partilha de riscos através de programas de financiamento, programas de microcrédito e garantias estatais deverão reduzir o risco individual para potenciais mulheres empresárias e ser vistas pelas autoridades como um investimento no desenvolvimento regional sustentável.

Para dar apoio às empreendedoras agrícolas, o projeto desenvolveu uma plataforma online de recursos formativos que engloba um programa de formação modular. Este programa aborda tópicos relevantes como a economia circular e os desafios específicos para as mulheres na agricultura.

O projeto ofereceu ainda um programa de mentoria que foi testado com mais de 100 potenciais agroempreendedoras, as quais receberam orientação de especialistas experientes. O esquema foi muito bem recebido, com uma taxa de recomendações de 90%.

Os parceiros do projeto incluíram a ISOB GmbH, da Alemanha, um colaborador de longa data da nossa comunidade que já participou no nosso projeto XTeam-FEM e com o qual vamos trabalhar novamente num novo projeto a iniciar em breve, precisamente na área do agroempreendedorismo feminino.

Todos os materiais estão disponíveis em: https://www.demetra-project.com/

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