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Divulgar sem saturar – Humaniza a tua Comunicação

A publicidade está por todo o lado. No feed das redes sociais, nos anúncios televisivos, na caixa do correio, nos placards outdoor, nos SMS e telefonemas que recebemos a todo o momento. Está afixada nos transportes públicos, salta à vista nos motores de busca e todos os dias inunda o nosso email. É física e é digital mas, sobretudo, é intrusiva e cada vez mais excessiva, como ilustra bem a mais recente campanha da Primor, que tem gerado imensa polémica e, claro, muita atenção.

Para algumas marcas é já necessário utilizar palavrões para despertar o interesse dos potenciais clientes, porventura na ótica de que «não existe má publicidade» e que «toda a publicidade é boa publicidade». Mas será mesmo assim, ou estaremos a atingir um ponto de saturação que nos obriga a repensar a forma como gerimos o excesso de informação não solicitada gerada pela publicidade e, também, a forma como divulgamos os nossos próprios negócios?

Enquanto gestoras do nosso negócio somos obrigadas a ver a questão sob duas perspetivas distintas: a do potencial cliente assoberbado pela publicidade e a da empreendedora que necessita de divulgar os seus serviços e produtos para vender. Na nossa comunidade Mulheres à Obra somos constantemente confrontadas com as dificuldades deste dilema. Por vezes, as participantes queixam-se de qualquer campanha que é partilhada no grupo, enquanto procuram por todos os meios promover os seus próprios negócios. Ou seja, são muitas pessoas a querer divulgar mas sem qualquer desejo de receber a divulgação das outras, o que origina um desequilíbrio que é difícil de gerir.

Na nossa perspetiva, este problema tem causas que é possível identificar e, por isso, tem soluções que podemos implementar para criar comunidades onde a comunicação dos nossos negócios seja mais humana e genuína, sem ser intrusiva. Mas vamos começar com as causas:

Saturação do mercado

O empreendedorismo tem vindo a aumentar nas últimas décadas, nomeadamente o empreendedorismo feminino. A qualidade do trabalho por conta de outrem tem sofrido uma degradação, nem sempre as entidades empregadoras facilitam a conciliação entre a família e o trabalho e, sobretudo, é cada vez mais difícil encontrar emprego a partir de uma determinada idade, ou quando se tem filhos pequenos. Assim, muitas mulheres procuram obter um maior controlo sobre as suas vidas e um maior poder de decisão sobre como, quando e onde trabalham por via da criação do seu próprio negócio. Muitas destas mulheres têm um perfil muito idêntico e partilham competências e interesses, pelo que acabam por criar negócios semelhantes, o que origina uma saturação do mercado.

Comunicação estereotipada

Muitos destes pequenos negócios apoiam-se bastante no marketing digital, que oferece oportunidades de divulgação por baixo custo. As empreendedoras procuram desenvolver a melhor estratégia possível de divulgação digital para o seu negócio e, com esse propósito, criam o seu perfil nas principais redes sociais, alimentam-nas com conteúdos para gerar seguidores e investem em divulgação e capacitação com os especialistas que oferecem formação nesta área. No entanto, todas o fazem e, como são muitas, ao utilizarem as mesmas estratégias, os mesmos canais e as mesmas técnicas, acabam por não se conseguir diferenciar. São como aves a voar num bando numeroso que não permite distinguir um único indivíduo porque a sua comunicação obedece a fórmulas tão rígidas que se torna estereotipada e indiferenciada.

Fascínio tecnológico

Hoje em dia existem programas e APPs que facilitam a criação de conteúdos, com destaque para a Inteligência Artificial, encabeçada pelo Chat GPT. Naturalmente, estas tecnologias são ferramentas muito importantes para qualquer pequeno negócio, mas acabam por desumanizar ainda mais a sua comunicação, que tende a ser produzida com base em conteúdos pré feitos por terceiros, ou mesmo por máquinas que nenhum contacto têm com a essência de cada negócio.  

A solução

Este é o momento em que a empreendedora que segue à risca os ensinamentos do marketing digital apresenta a fórmula milagrosa que vai resolver todas as angústias dos seus clientes. Pois bem, aqui não vamos fazer isso, porque a solução que propomos consiste precisamente em sair da caixa onde todas estas fórmulas mágicas são produzidas e reproduzidas até à exaustão.

A verdade é que esta não é uma solução milagrosa, e muito menos imediata. Consiste sobretudo em tentar resgatar a essência dos nossos negócios e a autenticidade da nossa comunicação por via da exploração de alternativas que podem passar pelo networking, o passa a palavra e a recomendação. Estas sustentam-se na construção de relacionamentos de qualidade, onde a reciprocidade significa que cada uma tem tanto interesse em divulgar o seu negócio como em conhecer o negócio das outras.

Isto pode parecer utópico, mas certamente será mais realista do que acreditar que os 6 dígitos de faturação estão à nossa espera ao virar da esquina, e que basta aplicar um qualquer ensinamento mágico para lá chegar. A vida não é fácil, gerir um negócio também não, mas se trabalharmos em conjunto e participarmos em comunidades que têm um espírito construtivo de partilha, podemos pensar em conjunto sobre a melhor forma de alcançar os nossos objetivos e de gerar prosperidade para todas.

Isto não significa que devemos abandonar a nossa estratégia de divulgação nas redes sociais, as nossas newsletters, as nossas publicações ou o nosso investimento em formação nesta área, que continuam a ser essenciais. Mas podemos desenvolver estratégias mais diversificadas e complementares que aliviem a pressão de nos fazermos ouvir no meio da gritaria geral que reina na internet. Pode ser que assim não seja necessário «gritar tão alto», produzindo tantos conteúdos, enviando tantas newsletters constantemente, fazendo campanhas a todo o momento. Nós ainda não chegámos lá, mas estamos a tentar e, mais importante do que tudo, não estamos sozinhas, porque muitas empreendedoras já se juntaram a nós nesta caminhada!

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