Empreendedorismo Empreendedorismo, oportunidade ou necessidade? Publicado em 12 de Novembro, 2018 Será que empreendedorismo é uma moda? É chique fazer parte de uma startup, nascer com a ajuda de uma incubadora ou trabalhar num espaço cowork? Pode ser! Porém, desde sempre apareceram indivíduos que se destacaram e mostraram ao mundo que a persistência, a vontade de criar ou mudar alguma coisa os levou mais além. Quando se descobriu o fogo, com toda a certeza, houve quem perante uma força assustadora encarasse aquele perigo como uma oportunidade, tanto para melhorar as condições de vida, como simplesmente para ter poder perante os outros. Lembro-me da minha mãe que trabalhava numa fábrica e na hora de almoço vendia roupa às colegas. Quando ficou desempregada vendeu peixe, vendeu aventais feitos pela minha tia e, por fim, trabalhou “a dias”. Não era o sonho dela ser empresária por conta própria, mas viúva e sozinha tinha que conseguir sustentar as despesas e criar a filha. Para percebermos a diferença… Empreendedorismo de Oportunidade O empreendedorismo de oportunidade é aquele que resulta do desejo de aproveitar, por iniciativa própria, uma possibilidade de negócio existente no mercado, através da criação de uma empresa. Nestes casos os empreendedores têm condições financeiras e visam a obtenção de retorno do investimento a curto prazo (Global Entrepreneurship Monitor Portugal, 2004-2013). Empreendedorismo de Necessidade No estudo feito por Hespanha (1), caracteriza-se o empreendedorismo de necessidade como sendo a alavanca para a criação de um negócio. Muitos negócios criados por desempregados nasceram da necessidade de ter um emprego, não pela oportunidade, mas pela necessidade de obter rendimento para sobreviver. Será o empreendedorismo a solução para o desemprego? Em alguns casos sim, ficar desempregado serviu como alavanca para criar o próprio negócio. Mas na generalidade é difícil de concretizar. Com base num estudo efetuado em 2015, apoiado pela 5ª edição do concurso Acredita Portugal, foi traçado o perfil do desempregado empreendedor. Na amostra recolhida, 36% dos empreendedores estavam em situação de desemprego, dos quais 56% eram do sexo feminino. As conclusões retiradas deste estudo indicam que a formação em empreendedorismo ainda é insuficiente. A maioria dos inquiridos não tem qualquer formação nem frequentou curso algum, e aqueles que o fizeram limitaram-se a frequentar ações de formação de curta duração. O financiamento é considerado o obstáculo mais determinante para o avanço da ideia. Também a burocracia e a falta de incentivos públicos são outros obstáculos identificados pela maioria dos inquiridos. Estes empreendedores são-no por necessidade; decidiram criar o próprio emprego como forma de garantir uma sustentabilidade que de outra forma não obtiveram. No tocante ao empreendedorismo há muito a fazer Na realidade, apenas uma pequena percentagem dos empreendedores consegue avançar com a ideia. Os que avançam necessitam de ter mais Know-How, e a questão do financiamento assume aqui também um papel determinante para a viabilidade do negócio, visto que muito poucos conseguem acesso a créditos. Existe algum apoio por parte dos organismos estatais e de algumas organizações privadas com o objetivo de incentivar o empreendedorismo, mas verifica-se por outro lado a persistência de medidas que dificultam a criação sustentável do negócio. O elevado peso dos impostos e taxas relacionadas com a abertura de empresas condiciona a decisão de implementar um negócio. Com tudo isto concluímos que muito há a fazer para melhorar as condições para a criação do próprio negócio, seja por necessidade, seja por oportunidade. Marta Esteves (1) HESPANHA, P. – Da Expansão dos Mercados à Metramofose das Economias Populares. Revista Crítica de Ciências Socias. 2009. 49-63. Fotografia Victoria Heath no Unsplash